Narrador Solidário



É o narrador que não se interpõe entre o leitor e o texto, pelo contrário, propõe um distanciamento dos fatos, e o leitor obriga-se a compreender a história, a partir das poucas indicações dadas.

O narrador assume uma postura democrática, cedendo a voz aos personagens, propiciando mais veracidade ao relato, e ainda priorizando a liberdade. A apresentação de diferentes perspectivas de um mesmo fato pode ser entendida como um ato de solidariedade ao leitor. Além disso, quando outras personagens contam suas histórias, podemos dizer que o leitor encontra brechas que lhe permitem sair da trama da narrativa.

O leitor, muitas vezes, não precisa refletir, já que encontra personagens e situações que se revelam diretamente a ele sem a intervenção do narrador, mas deixa que os fatos atuem sobre a sua sensibilidade, através do discurso direto, privilegiado pelas narrativas, com sua capacidade de comunicação em reproduzir as palavras das personagens sem subordiná-las às do narrador. Assim, a utilização progressiva desse recurso aproxima-se da estrutura dialogada. Esse modo de expressão lingüística acentua a situação vital de cada uma das protagonistas, que são descritas em uma linguagem mais próxima da vida real e que se entregam ao leitor em um jogo afetivo.

Quando encontra vocábulos aparentemente desconhecidos, o leitor é capaz de preencher brechas trazidas pela narrativa. Como no exemplo em que Alice não tinha a menor ideia do que fosse uma latitude ou uma longitude. Nesse trecho da obra, o narrador não explica o significado dessas palavras, deixando que o leitor construa a sua significação. Esse leitor apreende significados de novos vocábulos sem que isto seja feito de maneira explicativa, porque é capaz de realizar associações. Assim o leitor amplia o seu vocabulário. Essa situação aponta solidariedade.